29 de abril de 2016

O dinheiro dos contribuintes e a gratuitidade dos manuais escolares, no 1º ciclo do ensino básico

Mudámos de governo; mudámos de ministros. Temos um novo ministro da educação que tem tomado algumas decisões polémicas. Com umas concordo, com outras não mas, acima de tudo, acho que este ministro e este governo estão a tentar fazer melhor do que os anteriores, apesar das críticas que lhes são feitas por “pensadores” que se manifestam extraordinariamente preocupados com o meu dinheiro, melhor dizendo, com o nosso dinheiro, o dos contribuintes que, dizem, pretendem proteger.

Vem esta reflexão a propósito de uma decisão do actual governo: a partir do próximo ano lectivo os manuais escolares do 1º ciclo do ensino básico serão fornecidos, gratuitamente, aos alunos. Mal esta decisão veio a lume, muitos foram os que se pronunciaram contra por razões diversas pontuando, entre elas, o facto de, nessas circunstâncias, eu, os que me estão a ler, todos os contribuintes estarem a pagar aqueles livros porque “a verdade é que não há almoços grátis”. E isso ainda é mais grave porque, registam, é uma medida a aplicar a todos os meninos e meninas e não, apenas, àqueles mais desfavorecidos pelo que, desse modo, estaremos também a pagar os manuais daqueles cujos pais gastam mais em whisky do que eu ganho num ano.

Em meu nome, em nome dos que me lêem, em nome dos contribuintes, estes portugueses preocupados com o nosso dinheiro vêm lembrar que há sempre alguém que paga aquilo que é gratuito, no caso, os manuais escolares. E insurgem-se contra este governo, contra o ministro, contra a medida anunciada. Simultaneamente, manipulam a opinião pública conseguindo, com umas tiradas populistas sobre a equidade, a democracia, os direitos individuais, a piscar o olho para os portugueses do estilo “vejam o que estes malandros nos estão a fazer”, convencer uns e outros e transformar uma boa medida num erro crasso.

Discordo completamente com os argumentos que apresentam e com esses indivíduos. Na verdade, há funções e serviços que são da competência específica dos governos e que a nossa Constituição da República garante. Um deles, o direito à educação que deve ser fornecida de forma tendencialmente gratuita, pelo que questionar essa gratuitidade na escolaridade obrigatória, isto é, desde o pré-escolar ao 12º ano não tem qualquer fundamento.

E, gratuitidade não deve/não pode dizer respeito, apenas, às questões administrativas. Não é por se não pagarem propinas no ensino básico, ou no secundário ou no superior, que a educação é gratuita. Pensar assim é ter uma visão redutora do que são os custos de educação para o país e para as famílias. Viver a educação exige mais do que não pagar para andar na escola. Exige manuais escolares, cadernos, lápis, canetas, borrachas, réguas, compassos, transferidores, despesas de saúde, de alimentação, de deslocação, de alojamento, tantas coisas mais se tornaria enfadonho tudo enumerar.

Assim, uma educação gratuita, que é um direito de todos, não se reduz à gratuitidade dos manuais escolares, vai bem para além disso. Que o governo venha a distribuir, gratuitamente, os manuais escolares aos estudantes do 1º ciclo não é mais do que uma gota de água num oceano de despesas que as famílias são forçadas a fazer.

Um dos problemas que os detractores de tal medida assinalam é o facto de sermos nós todos, os contribuintes, que pagamos aqueles manuais através dos nossos impostos. Ora, porquê discordar de tal medida dado que, todos o sabemos, os nossos impostos são colectados para o estado cumprir, entre outras, as suas funções sociais de entre as quais saliento o direito à educação, o direito à saúde e, acrescento, o direito a uma vida digna.

De facto, desde há muitos anos que aprendi que os impostos servem para o estado cumprir as suas obrigações, nomeadamente de natureza social. A Democracia torna esta obrigação mais clara, mais extensa, mais necessária, mais urgente, mais forte, pelo que a iniciativa entretanto anunciada ainda assim, fica muito aquém do que deve ser feito se quisermos um país mais instruído, mais educado, mais justo, mais equitativo.

E, se é verdade que os críticos desta intenção do governo também se referem à injustiça subjacente a uma medida em que todos estamos a financiar todos, mesmo aqueles que não apresentam problemas financeiros, também é verdade que este argumento para além de populista é falacioso, perigoso, divisor, provocador, de má-fé.

De facto, se todos somos iguais perante a lei, detentores dos mesmos direitos e deveres, por que razão se deverá tratar de forma diferente os indivíduos relativamente ao usufruto de um mesmo direito? Uns, têm direito a uma educação gratuita e, outros não? Onde está a igualdade entre todos? E é por se negar a uns o usufruto dos seus direitos que os outros os usufruem em melhor qualidade e que a sociedade se torna mais justa e democrática? Convenhamos que quando se critica a gratuitidade dos manuais escolares em virtude da sua universalidade se está a atingir a Democracia naquilo que tem de mais sagrado: direitos iguais para todos e, portanto, igualmente usufruídos

Pena é que estes defensores do meu dinheiro, do nosso dinheiro, que querem manter e perpetuar a ditadura do pensamento único e a visão ultraliberal das relações humanas, promovida por governos anteriores e por uma União Europeia que se esqueceu da natureza eminentemente social do Projecto Europeu, pena é, dizia eu, que estes meus “amigos” nada digam sobre o meu dinheiro, o nosso dinheiro, que é entregue a escolas privadas que não são necessárias porque há oferta pública suficiente e de qualidade, ou que fomenta o cheque-ensino, reproduzindo e criando desigualdades entre as jovens e os cidadãos num verdadeiro atentado à Democracia, em nome de uma pretensa “liberdade de escolha”. Liberdade para quem? Para eles e os seus filhos, certamente; mas não para os menos favorecidos pela sorte e pela riqueza.

O governo anunciou a gratuitidade dos manuais escolares. Venha ela. E venham outras medidas semelhantes mas tendo sempre presente que não são mais do que remendos que não resolvem os problemas da desigualdade e injustiça que grassam no país, apenas minimizam os seus efeitos. Tendo presente que mudar um país, mudar a educação, não se faz através de medidas avulsas que respondem a questões imediatas mas através de um sistema concertado de medidas de política que têm um único objectivo em mente: Democratizar. E, para isso, também todos sabemos que, se queremos, realmente, contribuir para uma sociedade mais justa e democrática, o que temos é que exigir um outro sistema fiscal que resolva o problema da injustiça social e financeira que conhecemos, que reconfigure a forma de repartição dos rendimentos, que garanta, a todos, uma vida digna. Nenhum sistema fiscal injusto promove uma sociedade justa. É aí que se deve lutar. É aí que os críticos da distribuição gratuita dos manuais escolares, ao lado dos contribuintes que, dizem, pretendem defender, devem estar e usar os seus argumentos e os meios de comunicação de que dispõem para chegar a todos nós e contribuir para mudanças estruturais promotoras de uma vida digna para todos.

26 de abril de 2016

Apresentação do livro Pensar a Educação. Temas sectoriais

No passado dia 9 de Abril, entre as 10 e as 13 horas decorreu, na Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto, a sessão de apresentação da obra Pensar a Educação. Temas sectoriais (*), recentemente editada pela EDUCA. Porque essa obra é o resultado do Projecto Pensar a Educação. Portugal 2015 e do qual já fora publicado, também pela EDUCA, a obra Pensar a Educação (**), a sessão foi mais abrangente do que o seu objectivo inicial.

Dos autores da obra estiveram presentes Maria José Rau, Jorge Martins, José Maria Azevedo e Belmiro Cabrito. Na assistência, colegas que ou estão ou já estiveram na direcção de agrupamentos e de mega-agrupamentos e colegas da administração. O debate foi extenso e intenso. Discutiu-se o próprio objectivo do Projecto Pensar a Educação. Portugal 2015 que se pode concretizar, de forma muito sumária, num estudo em que colaboraram cerca de meia centena de investigadores e consultores que estudou, em profundidade, o nosso sistema educativo no sentido de sobre ele se fazer um diagnóstico alargado, se identificar pontos críticos e sugerir propostas de solução. Se a primeira publicação apresenta o que poderá ser um Programa da Acção para a Educação em Portugal, a segunda obra inclui os estudos que permitiram, à Comissão Executiva do Projecto, a formulação daquele Programa.

A obra Pensar a Educação. Temas sectoriais foi, então, o ponto de partida para um debate que identificou, claramente, problemas/questões que atravessam a nossa educação e o sistema educativo, nomeadamente:

- Problemas suscitados pelos agrupamentos e mega-agrupamentos de escola, entre os quais:

- a sua dimensão, que impede uma gestão eficaz e de proximidade, 

- a descaracterização das instituições incluídas,

- a burocratização, que fomenta o anonimato, transformando docentes e alunos em, apenas, “mais um número”. Como um dos intervenientes na sessão afirmava, não é possível a um director conhecer todos os seus colegas de agrupamento, quando chegam a ser mais de 400 ou a ter uma ideia sobre os seus alunos quando atingem milhares.

- Os efeitos negativos que a constituição “forçada” dos agrupamentos teve nos docentes e nos restantes profissionais de educação e que dificultou/dificulta uma integração de culturas de escola e de práticas educativas.

- A burocratização excessiva do trabalho dos professores que não promove nem permite a procura de formação nem a partilha de experiências ou a motivação.

- A participação das autarquias no processo educativo, tendo sido salientado o perigo que poderá decorrer da municipalização da educação.

- As dificuldades de financiamento com que se debatem as escolas de todos os níveis educativos.

- A centralidade de Lisboa, particularmente desde a extinção das Direcções Regionais de Educação entretanto transformadas em órgãos sem qualquer autonomia, obrigadas a consultar Lisboa para os problemas mais elementares com os atrasos “naturais” que não respeitam a urgência dos problemas reais e que impedem os colegas da administração de realizar, atempadamente, a sua tarefa e contribuem para a sua desmotivação. 

Em suma, a sessão veio a confirmar a oportunidade do Projeto Pensar a Educação. Portugal 2015 e a necessidade de continuar a promover a reflexão e o debate em torno da Educação no sentido de contribuir para, e promover, as mudanças necessárias para a construção de um Sistema Educativo de Dimensão Humana. 

* Silva, M., Cabrito, B., Fernandes, G. L., Lopes, M.C., Ribeiro, M. E. & Carneiro, M. R. (2016) (coordenação). Pensar a Educação. Temas sectoriais. Lisboa: EDUCA. 

** Silva, M., Cabrito, B., Fernandes, G. L., Lopes, M.C., Ribeiro, M. E. & Carneiro, M. R. (2016) (coordenação). Pensar a Educação. Lisboa: EDUCA. 



25 de abril de 2016

Necessidades Educativas Especiais:
à procura de boas práticas educacionais

CFAE
Todos sabemos que nos últimos quatro anos a educação de alunos com NEE sofreu um retrocesso considerável, tornando-se fundamental que se repense com urgência a forma como ela deve ser conduzida de modo a respeitar os direitos destes alunos, tendo sempre em mente a observação de uma “educação de qualidade” apoiada no princípio da “igualdade de oportunidades”. Assim sendo, para que se possam vislumbrar resultados positivos no que concerne às aprendizagens, é necessário que se considerem prioridades quanto à forma como essa educação deve ser conduzida. Se esta premissa me parece fundamental, então o desafio está no modo como a devemos concretizar. Neste sentido, apresento um conjunto de questões às quais deve ser dada a maior atenção caso pretendamos inverter o estado nebuloso em que mergulhou a educação de alunos com NEE. (...)
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Autor:
Luís de Miranda Correia,
Professor Catedrático Emérito, Universidade do Minho

23 de abril de 2016

Dois relatórios da rede EURYDICE

Da Direcção Geral das Estatísticas da Educação e da Ciência, representante em Portugal da rede comunitária EURYDICE, recebemos dois relatórios cuja importância nos merece aqui uma referência.
O primeiro deles, Tackling Early Leaving from Education and Training in Europe (EC/EACEA/ Eurydice/ CEDEFOP 2014), que pode ler-se na íntegra aqui, aborda o problema do abandono precoce da educação e da formação (APEF). Trata-se de uma questão de especial importância para Portugal uma vez que, apesar do progresso verificado, o país ainda se situa na 5ª pior posição no contexto da União Europeia (U.E.) relativamente a este indicador. De entre os factores que contribuem para o APEF em Portugal destaca-se o nível educacional dos pais, inversamente correlacionado com o abandono, e o sexo do aluno, sendo que a incidência do abandono é maior no sexo masculino. Especialmente associada com o APEF encontra-se, entre nós, a verificação de pelo menos uma repetência na trajectória escolar anterior: cerca de 34,3% de quem abandonou precocemente a escola encontrava-se nesta situação, segundo os dados PISA 2012.
Não se estranhará, assim, que uma das principais medidas de intervenção pública para combater o abandono precoce da educação e formação consista precisamente no combate à reprovação, mas também a formação de professores passou a incluir preparação específica para fazer face ao problema através de actividades de tutoria, mentorado e orientação vocacional. Dada a natureza multifacetada dos determinantes do APEF, a interacção entre diferentes áreas de intervenção pública – educação, saúde, mercado de trabalho… - tem vindo a ser apercebida como importante condição de sucesso, iniciando-se a consagração legislativa de uma tal interacção. Ainda no que ao nosso país diz respeito, são ainda de destacar as comparações entre o APEF no ensino regular e no vocacional, bem como uma análise das limitações da informação primária com base na qual se tem vindo a medir o abandono precoce da educação e formação.
O segundo relatório, Entrepreneurship Education at School in Europe. National Strategies, Curricula and Learning Outcomes (EACEA 2012) encontra-se igualmente disponível on line (http://eacea.ec.europa.eu/education/eurydice/documents/thematic_reports/135en.pdf). Tem como tema central a análise comparada, entre os diferentes EEMM, dos progressos registados em termos de formação para o empreendedorismo e a forma como esta se integra nos diversos curricula dos ensinos básico e secundário. Constatamos que, relativamente à situação em Portugal, ainda nos encontramos numa situação bastante embrionária, sendo aquele tipo de formação facultativo e com alguma expressão apenas nos programas das disciplinas de ciências sociais. É especialmente notória a ausência de uma estratégia nacional para a educação para o empreendedorismo, sendo que mesmo no domínio mais limitado da literacia financeira o país apresenta ainda grandes debilidades.

22 de abril de 2016

"Escola a Tempo Inteiro"?


Nas Grandes Opções do Plano para 2016-2019, no capítulo 16 “Combater o insucesso escolar, garantir 12 anos de escolaridade,” pode ler-se que uma das medidas previstas para alcançar este objectivo será a generalização da Escola a Tempo Inteiro em todo o ensino básico.

Mas, por que é que a escola a tempo inteiro é uma medida de combate ao insucesso escolar? Por que é que a retenção dos alunos na escola para além do horário escolar vai produzir um melhor resultado no seu aproveitamento?

Será que a proposta é a de que à escola-escola se sucede a escola-sala-de estudo para fazer trabalhos de casa e resolver dificuldades?

Ou, pelo contrário, pensa-se na criação de um novo espaço que seja uma oportunidade para proporcionar lazer, brincadeira e um conjunto de actividades lúdicas e recreativas que desenvolvam mais competências e proporcionem bem-estar às crianças envolvidas? Mas se assim for, qual é o programa? Em que espaços? Com que equipamentos? Com que recursos humanos? E se assim for, por que deve ser a escola a fazê-lo?

Ou será mais simplesmente uma forma de resolver problemas graves de conciliação da vida familiar com a vida profissional e dessa forma encontrar resposta “segura” para a “guarda” das crianças?

Esta é uma medida que encerra muitas questões, suscita muitas perplexidades, levanta muitas dúvidas.

Sabe-se que as crianças portuguesas têm um horário escolar carregado contrariando muito do que nesta matéria se pensa e tem vindo a ser demonstrado com suporte científico, nomeadamente na área da psicologia. Porquê, então, aumentar esse tempo de permanência para melhorar o seu rendimento escolar quando se desconhecem os moldes e se tem por base a experiência do passado, que se limitava a um simples acolhimento em sala de aula na maior parte dos casos?

A relação entre o aumento do tempo de permanência na escola e a promoção do sucesso escolar está longe de ser demonstrada e carece de um detalhado e fundamentado esclarecimento.

Transformar a escola numa “ama a tempo inteiro” é uma subversão dos direitos das crianças à educação, ao lazer, à sua família. Usar a escola como instrumento facilitador da conciliação da vida familiar com a vida profissional é uma forma pobre, apressada, errada, para encontrar caminhos possíveis, alternativos, que com responsabilidade e em liberdade, permitam aos pais encontrar as melhores soluções para si e para os seus filhos.

Maria do Rosário Carneiro

20 de abril de 2016

Currículo para o Século XXI: competências, conhecimentos e valores numa escolaridade de 12 anos

É este o tema de uma conferência promovida pelo Ministério da Educação, a realizar no próximo dia 30 de Abril, na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa.
 
Temos defendido neste blogue a necessidade e a urgência de uma reflexão amplamente participada pela sociedade em geral e, em particular, pelos docentes e demais técnicos ao serviço do sistema educativo, acerca da educação que desejamos para as próximas décadas e bem assim que se estabeleçam consensos políticos abrangentes válidos para além de uma legislatura.
 
A definição de um currículo que combine conhecimentos, competências e valores perspectivados para os desafios do século XXI é, sem dúvida, uma peça chave da construção de uma nova Lei de bases.
 
Aguardamos, pois, com expectativa as propostas que venham a ser apresentadas, os debates previstos e as conclusões que possam servir de base para um inadiável trabalho de construção do futuro.
 
O programa da conferência pode ser consultado aqui.
 
A conferência tem transmissão em simultâneo.

16 de abril de 2016

As crianças com necessidades educativas especiais e a dimensão das turmas no ensino básico

A polémica em torno da dimensão das turmas no ensino básico, a constituir no próximo ano escolar, teve o mérito de chamar a atenção para a situação das crianças com necessidades educativas especiais, um dos temas que mereceu aprofundamento no projecto Pensar a Educação e deu lugar a um extenso capítulo no livro Pensar a educação- temas sectoriais, editado pela Educa.

Lamenta-se o reducionismo da problemática em questão e o efeito perverso de pretensas normas que não têm em conta a diversidade de situações.

Defende-se, ao invés, a autonomia das escolas e a devida capacitação dos órgãos directivos e pedagógicos dos diferentes agrupamentos e escolas para a definição das soluções mais adequadas às situações concretas que se apresentam em cada caso, naturalmente dentro de critérios de orientação geral, tomados estes com a devida flexibilização.

Aproveita-se esta oportunidade para lembrar e transcrever duas das conclusões do projecto acima referenciado, na expectativa de que sirvam de incentivo à leitura do texto na íntegra e, sobretudo, à promoção de um alargado debate no seio do sistema educativo bem como na opinião pública sobre a questão do direito à educação por parte de todas as crianças com necessidades educativas especiais. 

No caso concreto das crianças e adolescentes com NEE, requer-se que o sistema tenha a preocupação de criar situações educacionais que proporcionem uma igualdade de oportunidades para esses alunos e que favoreçam o seu desenvolvimento, de modo a que seja implementado em todas as escolas um modelo adequado que reflicta os conhecimentos actuais decorrentes da experiência e da investigação mais recentes.

O actual enquadramento legislativo da educação especial, nomeadamente o previsto na segunda alteração da LBSE (artigos 19.º,20.º e 21.º) e numa parte substancial do Decreto-Lei 3/2008, carece de revisão no sentido de garantir, efectivamente, os direitos dos alunos com NEE e os das suas famílias.

15 de abril de 2016

O testamento político de Nuno Crato

O Ministro da Educação do actual governo revela-se cada vez mais como um erro de casting, mais parecendo uma encomenda tardia do anterior executivo. Por várias vezes temos aqui estranhado a sua forma de intervenção, ao arrepio das propostas e medidas inicialmente defendidas pela actual coligação. Deparámo-nos ontem com mais uma daquelas situações, desta vez relativamente à dimensão das turmas que têm inscritos alunos com necessidades educativas especiais (NEE).

Segundo notícia do Público on line, datada das 18:41h de hoje (ler aqui), o Ministro decidiu acrescentar mais um requisito às condições necessárias para a redução da dimensão das turmas com estudantes detentores de NEE. A par da desadequação de mais este requisito, que implica que para que haja redução se verifique uma inserção efectiva na turma igual ou superior a 60% do tempo curricular dos alunos com NEE, requisito que vários especialistas já começaram a criticar, o Ministro da Educação agiu, uma vez mais, sem ninguém ouvir, desrespeitando o andamento dos trabalhos e as iniciativas legislativas em discussão na Comissão Parlamentar de Educação (CPE). 

O despacho, ontem publicado em Diário da República, prevê ainda a manutenção da dimensão das turmas vigente no ministério de Nuno Crato, apesar de em sede de CPE o Ministro se ter comprometido a reduzir “paulatinamente” aquela dimensão.

Segundo os especialistas que já se pronunciaram e a Inspecção-Geral da Educação e Ciência, mais de 30% dos alunos com aquelas necessidades dispõem de apoio especializado complementar à escola. Assim se visa ir ao encontro das necessidades individuais daqueles alunos, não constituindo o limiar de 60% senão uma medida administrativa que terá em vista limitar tanto quanto possível o número de turmas de dimensão mais reduzida. Por outro lado, o Ministro da Educação reagiu, mais uma vez, de forma prepotente e arrogante, eximindo-se de ouvir as instâncias de consulta.

Não será altura de se perguntar o que faz este Senhor no actual executivo?


13 de abril de 2016

Sobre exames e provas de aferição no ensino básico
Um artigo de opinião a não perder

Vem hoje publicado no jornal público um artigo de opinião do Prof. Carlos Fiolhais que merece atenção. Ver artigo na íntegra aqui.
 
Mais do que discutir a assertividade das medidas tomadas pelo Ministro Tiago Brandão sobre provas de avaliação no ensino básico, o Autor deixa sérias críticas ao modo como tem vindo a ser conduzida a política educativa.
 
Em particular, denuncia-se o reiterado recurso a decisões avulsas, insuficientemente fundamentadas e explicadas e sem procurar a adesão efectiva dos principais actores do sistema educativo que as devem implementar.

Lamenta-se também que ainda não se vislumbrem acções tendentes a reconquistar a devida dignificação do corpo docente e sua motivação profundamente abaladas pelo mau relacionamento institucional que tem existido ao longo dos últimos anos.

Em reforço da opinião já expressa em anterior post publicado neste blogue, cito a opinião do Professor catedrático da Universidade de Coimbra: 

O nosso sistema educativo precisa de estabilidade. Os professores e os alunos precisam de fazer o seu trabalho em paz, sabendo atempadamente o que os espera.

12 de abril de 2016

"Toda a escolaridade obrigatória sob alçada dos municípios a partir de 2018 - ANMP"

"As novas competências dos municípios na educação, que deverão abranger toda a escolaridade obrigatória e envolver os edifícios escolares, entrarão em funcionamento em 2018 e o seu financiamento será assegurado por um fundo a criar." 
[ Fonte: Agência Lusa ]  Para ler mais aqui.

Portugal aceita este processo como mais uma inevitabilidade na área da Educação?
Penso que sim.
E como será o dia seguinte? 

11 de abril de 2016

Uma educação para o século XXI - temas a debater?

Assim concluía a conferência com o título acima, por mim proferida no Congresso Profmat, realizado no Porto, no passado dia 31 Março:

(…)

Creio ter deixado clara a minha convicção de que é urgente rever e actualizar o nosso sistema educativo e adequá-lo aos desafios do século XXI.
 
Para isso, há que reconhecer e ter em atenção a situação actual e as suas múltiplas disfuncionalidades que importa corrigir, no curto prazo. Mas há que ousar ir mais além.
 
É urgente trabalhar na construção de uma documentada, clarividente e participada visão prospectiva que integre os novos desafios e os novos recursos potenciais do século XXI, que mobilize investigadores, docentes, gestores, encarregados de educação, bem como a sociedade em geral e os diferentes partidos políticos que a representam na consensualização de um Pacto político sobre a educação, válido para um horizonte de, pelo menos, uma década.
 
O texto que serviu de base a esta conferência está disponível neste blogue. Aqui.

2 de abril de 2016

Será a dimensão das turmas um factor relevante do sucesso educativo?

Saúdo a iniciativa do Conselho Nacional de Educação (CNE) de retomar a publicação de uma série de estudos temáticos sobre o sistema de ensino, contribuindo, assim, para disponibilizar conhecimento científico que sirva de fundamento à tomada de decisão em matéria de políticas públicas no sector da educação bem como à avaliação do desempenho do sistema de ensino e seu aperfeiçoamento.
O mais recente estudo tem por título Organização escolar: as turmas- Nele aborda-se a questão da dimensão das turmas nos jardins-de-infância e nos diferentes ciclos de ensino básico e secundário e o seu impacto no sucesso educativo.
Uma vez mais, fica provado que existe correlação positiva entre sucesso escolar e dimensão das turmas, mas apenas para os intervalos superiores (25-30 alunos por turma, no caso do ensino básico, intervalo inferior para os jardins-de-infância).
Embora exista um quadro legislativo com normas precisas quanto a números máximos e mínimos de crianças/alunos a que deve obedecer a dimensão das turmas nos diferentes níveis de ensino público, que comparam relativamente bem com dados análogos de outros países do mesmo espaço geo-político (UE e OCDE), verificam-se ainda desigualdades a nível de concelhos e regiões do País que merecem ponderação.
Os autores do relatório debruçam-se também sobre a literatura científica disponível e com base nela sugerem um conjunto de medidas alternativas à redução do número de alunos por turma .
Nesse sentido, os autores do Relatório escrevem: Como medidas alternativas à redução do número de alunos por turma, sugeridas pelos estudos analisados, destacam-se: maior investimento na qualificação, capacitação e formação dos professores, melhor sistema de colocação e recrutamento de professores com menor rotatividade, políticas de compensação para professores, combate à retenção, implementação de um melhor currículo, sistema de monitorização e de avaliação mais frequente, maior investimento em tecnologia educacional e maior autonomia dada ao diretor para uma gestão criativa na atribuição de turmas.

Subentende-se, obviamente, que se trata de ponderar reduções abaixo dos valores actualmente estabelecidos,