29 de julho de 2016

O mito do sucesso escolar e não só...

O sucesso escolar a todo o custo tornou-se num novo mito da reforma do sistema educativo. Mas ainda ninguém ousou esclarecer o que se entende por um tal sucesso no que respeita a objectivos visados no que concerne ao conhecimento, aos valores, à cidadania responsável, à qualificação necessária para responder aos desafios do tempo presente e, principalmente, para fazer face a uma visão prospectiva das mudanças estruturais que estão em curso. Por outro lado, não deixa de ser preocupante a ligeireza com que se pretende levar à prática a consumação de um tal mito.
 
Num artigo recente, Paulo Guinote chama a atenção para a problemática em causa e assim dá voz ao pensamento de muitos outros docentes que desejariam ver consideradas as razões de fundo do insucesso em vez de se verem sujeitos a uma subtil coacção de “faz de conta”.
 
Não deverá o Ministério da Educação escutar estas reflexões e dar-lhes provimento?
 
E que dizer do processo em curso visando tornar o financiamento de projectos de escolas sujeito ao poder deliberativo das autarquias? Para onde vai o saudável princípio da autonomia da escola?
 
Também sobre esta importantíssima questão da municipalização da educação em marcha se debruça Paulo Guinote no artigo abaixo referido, levantando os véus que tentam encobri-la.
 
Não é demais enfatizar a ideia de que a sociedade civil e a comunidade educativa não devem ficar à margem destes processos administrativos, os quais pelas implicações que têm não deveriam ser conduzidos fora de um enquadramento legal de uma Lei de Bases devidamente discutida e aprovada.
 
O artigo a que nos referimos encontra-se aqui.

12 de julho de 2016

Inspira o teu professor

Não é de mais sublinhar a importância que a pessoa do professor tem na formação dos alunos e, indirectamente, na sociedade.
 
A este propósito, em outra ocasião (Jornal das Letras, Maio 2015), escrevi: Não é possível dissociar a qualidade de um sistema educativo do seu corpo de profissionais, com destaque para os professores e educadores. São estes que, no exercício quotidiano das suas actividades docentes e não docentes, dão corpo a um dado projecto educativo e concorrem para o respectivo sucesso e desenvolvimento. Importa, pois, que estes profissionais estejam devidamente motivados e qualificados para o bom desempenho das suas funções.
 
Subentendia-se, neste texto, a necessidade de alocar mais recursos na formação, motivação, estímulos dirigidos aos professores, para que, por sua vez, estes inspirassem os seus alunos a aprender e a ser bons cidadãos.
 
Não me ocorreu, então, a pergunta: será que o aluno pode inspirar o professor?
 
Afonso Reis, professor do ensino secundário, economista e fundador dos clubes Mentes Empreendedoras, entende que sim.
 
Desde há dois anos tem em marcha um projecto inovador intitulado Inspira o Teu Professor, o qual tem alcançado sucesso nas escolas em que tem sido aplicado.
 
O projecto não passou despercebido aos organizadores da última sessão de Davos onde Afonso Reis foi convidado a apresentá-lo. O reconhecimento alcançado permite esperar, inclusive, a sua futura internacionalização.
 
Entretanto, será desejável que o projecto encontre, no próximo ano escolar, idêntica receptividade nas nossas escolas.
 
Para maior conhecimento ver este vídeo.

7 de julho de 2016

A quebra demográfica e a qualidade do ensino

Nos últimos dias a imprensa tem vindo a insistir no facto de se prever uma redução de cerca de 1000 turmas, no próximo ano lectivo, nos ensinos básico e secundário. Esta prevista diminuição, decorrente da acentuada quebra demográfica que bem conhecemos, pode e deve mesmo, em nossa opinião, conhecer uma muito mais frutuosa solução alternativa que possa, ao mesmo tempo, levar a uma melhoria da qualidade do ensino.

Comecemos por considerar alguns indicadores. Em 2014, a percentagem de jovens portugueses, dos 25 aos 34 anos, com o ensino secundário e o pós secundário não superior completos situava-se em 33%, sendo de 42% e 45%, respectivamente, os correspondentes valores para a OCDE e para a U.E.- 21 (OECD 2015, Education at a Glance, http://www.oecd.org/education/education-at-a-glance-19991487.htm). Por outro lado, a taxa média de conclusão com sucesso dos ensinos básico e secundário era, no Portugal de 2015, de apenas 78%, resultado que associado à constatação anterior revela o impacto do insucesso escolar na modéstia dos resultados educativos portugueses. Segundo dados da Direcção Geral das Estatísticas da Educação e Ciência, as taxas de retenção e desistência no conjunto dos três ciclos do ensino básico, que vinham a registar um decréscimo significativo desde o ano lectivo de 2003/2004, voltaram a aumentar a partir do ano lectivo de 2011/2012, situando-se em 2013/2014 a um nível idêntico ao de 2006/2007[1]. Segundo a mesma fonte, também desde o ano lectivo de 2010/2011 se verificou de novo um aumento da relação alunos/docente nos três ciclos do ensino básico e no secundário, chegando-se no ano lectivo de 2013/2014 a valores daquela ratio superiores ao de toda a década anterior.

Não valerá a pena referenciar neste post os numerosos contributos que têm estudado a influência da dimensão das turmas – entre outros factores – no insucesso escolar em Portugal. A equipa de autores do Projecto Pensar a Educação. Portugal 2015 desenvolveu também este aspecto, no âmbito do capítulo relativo aos temas organização, administração e financiamento do sistema escolar, como pode constatar-se através da leitura dos dois livros a que o Projecto deu lugar[2]. Num Parecer recente do Conselho Nacional de Educação – Organização da escola e promoção do sucesso escolar, de Junho de 2016 (ler aqui ) –  o relator, Professor Joaquim Azevedo, ilustra igualmente como a existência de turmas sobredimensionadas, a par da coexistência de diferentes anos curriculares numa mesma turma,  se destaca no conjunto dos principais determinantes do insucesso.

O actual governo tem vindo a mostrar preocupação com o problema do elevado insucesso escolar e concebeu mesmo um programa de tutorias que consiste, essencialmente, num complemento de horas de estudo, assistidas pelo tutor, para os alunos em risco de retenção de ano ou ciclo. Não se negando que desta medida venham a decorrer potenciais efeitos positivos, sublinha-se, no entanto, que as melhores prácticas de combate ao insucesso têm passado, entre outras metodologias complementares, pela redução do número de alunos por turma, com as seguintes vantagens: capacidade de dinamização de trabalho e aprendizagem em pequenos grupos, com maior proximidade e envolvimento do professor, num ambiente menos propício à indisciplina e desmotivação. E com a possibilidade de os professores conduzirem mais eficazmente os projectos que concebem, num contexto estável, evitando também a sua desmotivação.

Ora a diminuição do número de alunos por turma constitui objectivo que, nas palavras do governo, se prosseguirá paulatinamente e só em próximos anos lectivos. Não seria, então, de aproveitar os efeitos da quebra demográfica agora tão sublinhada para introduzir desde já e de forma sistemática aquela diminuição, em alternativa à redução do número de turmas?


[2] Manuela Silva e outros (coord. 2015). Pensar a Educação. Portugal 2015 e Pensar a Educação. Portugal 2015 – temas sectoriais. Lisboa: EDUCA. 

4 de julho de 2016

Uma tarefa de confiança lindíssima

Na escola pública é o título que a professora Emília Cardoso dá a um conjunto de reflexões pessoais acerca da educação e da missão do professor, feitas em diálogo com Teresa Pimenta, também professora e recentemente falecida.
 
A Autora traz a público memórias suas de uma longa prática de ensino, as quais foi compilando e debatendo com a sua colega e amiga, ao longo de vários anos, e de que foi encontrar registo no espólio intelectual deixado por esta última e por ela recuperado.
 
Num tempo em que se discute a escola pública, se vão anunciando alterações várias aos percursos escolares e se prevêem reformas para todo o sistema de ensino, é particularmente oportuno que se pare para pensar.

É indiscutível que se tem de repensar a escola pública, os seus objectivos nucleares e os recursos que nela devemos (queremos) investir, mas para tal, há que auscultar o que experienciam, o que pensam e sentem, os docentes que nela trabalham e diariamente nela se empenham, conhecer as suas motivações, frustrações e expectativas.

Este pequeno livro é apenas uma experiência reflexiva de duas professoras de história no ensino básico e secundário que assumem como missão explícita educar as novas gerações, que dizem ser uma tarefa de confiança lindíssima (…).

Vale a pena ler e debater. 

Lembro que este blogue muito aprecia eventuais contributos sob a forma de comentários ou novos posts. Num e noutro caso, sujeitos, como é óbvio, a moderação.