Já referi neste blogue a iniciativa da DGE de promover uma conferência pública para debate em torno da construção de um currículo para uma escolaridade de 12 anos que tenha na devida conta os desafios do século XXI.A mesma teve lugar no passado sábado, dia 30 abril.
Enquanto não temos acesso ao conjunto dos documentos produzidos e apresentados na conferência vale a pena ir chamando a atenção para alguns contributos.
Com a anuência da Autora, a professora Lurdes Figueira, Presidente da direção da Associação de Professores de Matemática, transcrevo as suas considerações de resposta à pergunta: Que perfil de competências deve o cidadão do século XXI desenvolver na escola?
Neste breve comentário permitam-me que distinga o ensino obrigatório básico, do ensino secundário obrigatório até aos 18 anos que inclui por isso percursos formativos diferenciados a partir da conclusão do 9º ano. Esta distinção põe de manifesto as diferentes etapas de desenvolvimento e formação que se desejam articuladas e ajustadas, tendo em vista um ensino de 12 anos de escolaridade de qualidade para todos e com todos.
Neste breve comentário permitam-me que distinga o ensino obrigatório básico, do ensino secundário obrigatório até aos 18 anos que inclui por isso percursos formativos diferenciados a partir da conclusão do 9º ano. Esta distinção põe de manifesto as diferentes etapas de desenvolvimento e formação que se desejam articuladas e ajustadas, tendo em vista um ensino de 12 anos de escolaridade de qualidade para todos e com todos.
Permitam-me pois essa diferenciação cujas características podem também ser enriquecidas e completadas à luz do Relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI, o conhecido Relatório Jacques Delors:
Em relação ao ensino básico
Ele deve ser essencialmente o mesmo para todas as crianças e jovens, evitando seleções precoces, e com incidência curricular (matérias e objetivos) suficientemente abrangente para poder desenvolver capacidades e atitudes diversificadas dos alunos e abrir-lhes portas das diferentes áreas de conhecimento e de expressão. O que é importante é desenvolver o saber, o saber fazer, o saber ser.
Neste sentido, as aprendizagens devem desenvolver-se de uma forma equilibrada e, nos primeiros anos de aprendizagem (1.º CEB) nenhuma área de conhecimento deve prevalecer sobre outras, sabendo que o domínio da língua materna é subjacente a toda a aprendizagem. As disciplinas diferenciadas devem aparecer de uma forma faseada e em concomitância com áreas curriculares não disciplinares que permitam experiências de interdisciplinaridade e de aplicação e consolidação de diversas aprendizagens.
Em relação ao ensino secundário
Importa reafirmar que o ensino secundário é presentemente um ciclo de ensino obrigatório mas diferenciado, com valências múltiplas e não mutuamente exclusivas. É o momento em que se realiza uma primeira escolha dos jovens que, no entanto, está longe de ser uma escolha definitiva. É por isso necessário sublinhar que este nível de ensino deve fazer sentido por si só e não pode ser visto à luz de um ciclo de pré-ensino superior, ainda que, de cursos de prosseguimento de estudos se possa tratar, como em alguns casos sucede.
Todos os alunos do ensino secundário, independentemente do tipo de curso que escolham, devem ter um tratamento equivalente em termos de direitos e deveres e diferenciado em termos das suas opções, num pressuposto prévio de que todos os cursos têm o mesmo nível de dignidade. No entanto, qualquer que tenha sido a opção dos alunos à entrada do ES, ela não deve impedir ou limitar, posteriores eventuais opções académicas.
Com estes pressupostos, qual deve ser o perfil que uma ou um jovem deve atingir no final do seu percurso escolar?
Em 1988, o Ministério da Educação publicou um documento intitulado Perfil Cultural Desejável do Diplomado do Ensino Secundário . Hesitei se o deveria ir buscar à prateleira, não só por ser um documento com quase trinta anos, mas também por dizer respeito a uma realidade escolar que, à época, não estava dentro do ensino obrigatório. Mesmo assim, fi-lo e surpreendi-me com a sua atualidade e pertinência, talvez por estar tão próximo da aprovação da Lei de Bases do Sistema Educativo (1986) e da grande reforma que subsequentemente se fez, assumindo assim quase um valor programático para a escola da era democrática. Neste documento as características deste Perfil são organizadas em três grandes domínios: o Perfil Sócio-moral, o Perfil Cognitivo-Cultural e o Perfil do Controlo Corporal. Para cada um destes domínios de perfil, são apresentadas várias características e, cada uma das características apontadas é desenvolvida em termos de comportamentos, aptidões e atitudes, sendo ainda apontadas práticas pedagógicas que podem favorecer a aquisição e o desenvolvimento das mesmas. Sucintamente, formar jovens autónomos, com autoestima e confiantes nas suas capacidades, respeitadores da autonomia dos outros, ativos, intervenientes e capazes de colaborar com outros; jovens que possuam uma base sólida de cultura humanística e científica, com sensibilidade, abertura e espírito crítico, capazes de se adaptar às mudanças, de interpretar e analisar a própria realidade e realidades outras, capazes de apreciar o mundo da cultura e os valores estéticos; jovens conscientes da importância do desenvolvimento saudável do seu corpo, quer no que diz respeito à condição física, quer ao controlo emocional.
Com estes pressupostos, qual deve ser o perfil que uma ou um jovem deve atingir no final do seu percurso escolar?
Em 1988, o Ministério da Educação publicou um documento intitulado Perfil Cultural Desejável do Diplomado do Ensino Secundário . Hesitei se o deveria ir buscar à prateleira, não só por ser um documento com quase trinta anos, mas também por dizer respeito a uma realidade escolar que, à época, não estava dentro do ensino obrigatório. Mesmo assim, fi-lo e surpreendi-me com a sua atualidade e pertinência, talvez por estar tão próximo da aprovação da Lei de Bases do Sistema Educativo (1986) e da grande reforma que subsequentemente se fez, assumindo assim quase um valor programático para a escola da era democrática. Neste documento as características deste Perfil são organizadas em três grandes domínios: o Perfil Sócio-moral, o Perfil Cognitivo-Cultural e o Perfil do Controlo Corporal. Para cada um destes domínios de perfil, são apresentadas várias características e, cada uma das características apontadas é desenvolvida em termos de comportamentos, aptidões e atitudes, sendo ainda apontadas práticas pedagógicas que podem favorecer a aquisição e o desenvolvimento das mesmas. Sucintamente, formar jovens autónomos, com autoestima e confiantes nas suas capacidades, respeitadores da autonomia dos outros, ativos, intervenientes e capazes de colaborar com outros; jovens que possuam uma base sólida de cultura humanística e científica, com sensibilidade, abertura e espírito crítico, capazes de se adaptar às mudanças, de interpretar e analisar a própria realidade e realidades outras, capazes de apreciar o mundo da cultura e os valores estéticos; jovens conscientes da importância do desenvolvimento saudável do seu corpo, quer no que diz respeito à condição física, quer ao controlo emocional.
Certamente este Perfil carece de algumas atualizações tendo em conta a época que vivemos, fortemente tecnológica, sensorial e visual, época de “tempo veloz” e constante mudança em que vivem as nossas crianças e jovens desde a mais tenra infância. Em meu entender dever-se-á também explicitar melhor as opções educativas de hoje, face a uma sociedade fortemente competitiva e “medidora”, atingindo níveis de insanidade cada vez mais disseminada, diferente do horizonte social do final dos anos 80 do século passado.
Definir este Perfil, é uma tarefa fortemente ideológica e tem a ver com o modelo de sociedade que queremos construir. Temos que o assumir.
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