22 de outubro de 2015

O Estado da Educação: quando pouco ou nada há a elogiar…

Consta que em dada altura Confúcio terá dito: “Mais do que saber a resposta, preocupa-me sobretudo o entendimento da pergunta”. Não haverá por certo frase mais adequada do que esta para descrever a nossa perplexidade com a leitura do primeiro capítulo do relatório do Conselho Nacional de Educação (CNE) Estado da Educação 2014, conhecido a 16 de Outubro. Publicado anualmente, este relatório pode constituir um contributo importante para o conhecimento dos aspectos mais positivos, bem como para os problemas fundamentais da educação em Portugal, tal o manancial de informação que convoca e analisa. No entanto, tal contributo pode vir a ficar completamente diluído face a análises no mínimo polémicas e de rigor altamente duvidoso como a que o presente relatório desenvolve a propósito do tema Educação e desenvolvimento económico (1º Capítulo).

Consideremos a “questão de investigação” de partida: “A evolução dos resultados obtidos pelos alunos portugueses é melhor que a evolução do desenvolvimento do país?” (CNE 2015, pg 13). De imediato se nos coloca a seguinte dúvida: qual a pertinência de uma tal comparação, mais semelhante a um confronto de desempenhos entre duas corridas de obstáculos protagonizadas por atletas de modalidades diferentes, com itinerários não comparáveis e à custa de recursos e meios que, devendo ser solidários e concorrer para um grande objectivo comum, frequentemente concorrem entre si?

E, em seguida: como se mede aquela evolução dos resultados dos alunos? Dado que, como é referido, se constatou uma melhoria significativa nos valores (scores) obtidos em Matemática nos últimos inquéritos PISA, são estes valores, e só eles, os utilizados na análise da evolução. Note-se que se trata não mais do que indicadores de ordenação, resultantes de testes estandardizados, sem qualquer tradução em domínio de capacidades básicas e conhecimentos fundamentais dos alunos. Note-se, também, que tais pseudo indicadores nada indicam sobre outros resultados obtidos pelos alunos portugueses, como os que respeitam à persistência de elevadas taxas de retenção ou à quebra abrupta da educação e formação da população adulta, para referir apenas dois domínios em que nos encontramos muito longe, ou retrocedemos mesmo, face, por exemplo, às metas e compromissos que assumimos no âmbito do Horizonte 2020. Além do mais, conviria que a análise da série de anos estudados não fosse truncada e permitisse levar em conta que, em anos recentes, se constataram retrocessos naquele indicador de “desempenho” em Matemática… E que, desse modo, a frase “A melhoria sustentada dos resultados de Portugal posiciona o país com um olhar positivo para o futuro” (CNE 2015, pg 16) nos pareça, no mínimo, patética.

Perde-se ainda esta análise com exercícios desnecessários de clusterização estatística, de molde a poderem comparar-se países “homogéneos”, procedimento que acaba por ser substituído pela comparação única com os resultados da Polónia enquanto referência em termos educativos. E, do mesmo modo, se esforça à outrance por demonstrar que Portugal verifica os resultados de Goldin & Katz, autores destacados no relatório por terem descoberto a evolução contra cíclica do desenvolvimento económico e da evolução das qualificações… Como se grande parte dos bons resultados educativos do nosso País nesta fase recessiva, a verificarem-se efectivamente, e ao contrário de grande parte das outras sociedades europeias, nada tivessem a ver com a recuperação potencial do atraso secular da educação em Portugal.

A quem aproveita tão absurda tentativa de “dourar a pílula”, neste fim de ciclo político?


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