O processo já era conhecido mas a imprensa escrita tem vindo
a dar a notícia recorrentemente: as instituições, universitárias e politécnicas
(IUP) estão cada vez mais a custear as propinas dos alunos de excelência.
Numa primeira leitura, uma tal iniciativa só parece ser de
aplaudir: esta responsabilização crescente das IUP pela boa sorte dos seus
melhores alunos é socialmente muito valorizada. Significa um empenho e
motivação acrescidos para com os que mais aproveitam das condições de ensino,
extensão universitária e, eventualmente, investigação, que aquelas IUP
proporcionam. Deveria servir, ao mesmo tempo, para facilitar uma potencial
absorção posterior de tais alunos, enquanto futuros docentes e/ou
investigadores, se não fossem as enormes restrições institucionais que estão a
impedir a renovação do corpo docente. Ou, alternativamente, para agilizar a
transição dos mesmos para um mercado de trabalho externo qualificado, pese
embora a predominância de trabalho precário que hoje em dia espera,
efectivamente, os diplomados. Num tempo em que as famílias se vêm cada vez mais
em dificuldade para fazer face aos custos, directos e indirectos, que acarreta
ter filhos a estudar no ensino superior, tal medida recolhe ampla aceitação social.
As IUP estão, com esta iniciativa, a suprir uma falha
de Governo e das políticas públicas, especialmente no que se refere à redução
crescente da acção social do Estado para com o ensino universitário: esta, terá
decaído em valor cerca de 19% entre 2010 e 2014 para os estudantes do 1º ciclo.
Tendência que se inscreve, aliás, numa evolução negativa mais ampla, marcada
pelo facto de a parcela executada do Orçamento de Estado (OE) afecta a educação
ter diminuído cerca de 12% entre 2011 e 2014 (www.pordata.pt
).
A parcela da dotação do OE às IUP também tem vindo a decrescer
significativamente: apesar de um crescimento nominal daquela dotação, o aumento
dos encargos com transferências para a Caixa Geral de Aposentações e com
actualizações salariais tem vindo a contribuir para uma diminuição efectiva da
dotação, em termos reais (Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas, http://crup.pt/pt/ensino-universitario/financiamento,
acesso em 2/8/2015). Assim, aquele apoio acrescido aos bons alunos é feito
apesar de restrições económicas crescentes. Pode e deve desde logo afirmar-se
que o nível de responsabilidade social das IUP tem vindo a aumentar de forma
muito evidente, como o expressam inúmeras iniciativas.
No entanto, há que ver a outra face da moeda, bem como atender
a aspectos tendencialmente negativos, que se associam àquela iniciativa. Quanto
a estes, colocamos as seguintes questões para reflexão e debate:
Q1- Será que a dispensa de propinas aos bons alunos se faz
sentir de modo equilibrado entre os vários cursos ou existirão enviesamentos a
favor dos cursos com menos procura? Quais as consequências previsíveis para o
sucesso académico de tais alunos?
Q2- … ou a favor dos cursos com menos saídas profissionais? Quais
as consequências previsíveis para a inserção profissional dos futuros
diplomados?
Q3- A dispensa de propinas para aqueles alunos supõe, ou não, contrapartidas
dos mesmos para com a instituição de ensino? Se sim, de que tipo(s)?
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