O estudo “Chumbar” melhora as aprendizagens? decorrente do projecto aQueduto do Conselho Nacional de Educação (CNE), apresentou ontem os seus resultados fundamentais (ver aqui). Para além de – mais uma vez – se constatar a influência do fraco estatuto socio-económico e cultural dos pais sobre o mau desempenho escolar dos/as filhos/as, observa-se e reforça-se a conclusão de que as repetições de ano, os “chumbos”, em nada contribuem para melhorar aquele desempenho: apenas 14% dos/as alunos/as que “chumbam” consegue recuperar. Esta parece ser, aliás, a conclusão chave do estudo, surgida após a tomada de posição do Ministério da Educação sobre “o fim dos exames”. Ou terá sido a decisão ministerial que não esperou pelo estudo?
Relativamente aos resultados que estamos a analisar, algumas dúvidas se nos colocam:
- são apresentados os custos unitários associados a diferentes tipos de intervenções com vista à melhoria das aprendizagens, bem como a respectiva duração, em meses; e sobre os ganhos efectivos destas intervenções? Por exemplo:
- a intervenção ao nível do pré-escolar, a segunda medida “mais cara” depois da repetição de ano, que resultados tem tido em termos da melhoria das aprendizagens futuras? Pode esta intervenção, com efeitos de longo prazo sobre as trajectórias escolares, ser comparada, sobretudo em termos de custos, com as medidas de efeitos mais imediatos como a redução das turmas ou as explicações individualizadas?
- quais as metodologias usadas para calcular estes custos? Embora o projecto aQueduto nos providencie mais informação a este respeito, muito beneficiaríamos se os resultados agora apresentados viessem acompanhados de pequenas notas metodológicas.
E o que dizer sobre a regulação, articulação e visão de conjunto sobre todos estes aspectos? Por um lado, temos vindo a assistir à tomada de decisão ministerial em domínios múltiplos e bastante diversificados, atendendo ou não à emissão de pareceres, por exemplo pelo CNE, pareceres que em várias situações têm vindo a surgir após aquela decisão. Ou será ao contrário?
Por outro, e passado já o tempo suficiente, o actual gabinete ainda nada informou sobre as linhas fundamentais, os eixos de referência ou os princípios norteadores da estratégia educativa que se propõe seguir, a qual não podemos deixar de crer que esteja a servir de base às medidas dispersas entretanto anunciadas. E tal informação torna-se urgente e imprescindível.