29 de novembro de 2015

O relatório "Education at a Glance 2015" - II)

Quando o poder esconde a informação…
A inexistência neste relatório de informação relativa a Portugal em domínios chave da análise conduzida tem de ser sublinhada criticamente. Esta falha é particularmente significativa nos seguintes domínios:
- o da mobilidade educativa intergeracional, indicador que vem revelando verificar-se no nosso País uma elevadíssima taxa de persistência, ou inércia intergeracional, no ensino superior. Importante indicador de desigualdade – a probabilidade de se deter o ensino superior depende muito, em Portugal, da geração anterior ter obtido uma licenciatura… - é de esperar que tenha vindo a agravar-se muito com a crise, mas a última informação que disponibilizámos para a OCDE refere-se a 2010;
- o da educação da população adulta, domínio quase completamente a descoberto neste relatório anual, como de resto nos dois anteriores. É bem sabido como este importante aspecto educativo foi totalmente desprezado pelo governo que acaba de cessar funções: perante a incapacidade de conceber uma verdadeira estratégia educativa da população adulta, não só se destruíram as aquisições anteriores sem as ter submetido ao indispensável exercício da crítica, como nos furtámos a participar em inquéritos e surveys internacionais a que anteriormente tínhamos aderido, como o PIACC (OECD Survey of Adult Skills);
- o relativo aos efeitos não económicos da escolaridade, como a participação cívica e em voluntariado, a auto percepção sobre as condições de saúde e sobre a capacidade de ter “voz”, por exemplo. Trata-se de aspectos que só recentemente vêm sendo abordados pela OCDE, por pressão das correntes de pensamento alternativas ao mainstream, e para a qual seria importante que o País contribuísse com informação;
- a da percepção dos detentores de um diploma de ensino superior sobre o grau de maior ou menor inovação associado à profissão desempenhada, em várias áreas de actividade incluindo o ensino. Tanto quanto conseguimos saber, este aspecto constitui uma novidade neste tipo de análises desenvolvidas pela OCDE e teria sido importante que tivéssemos aderido ao correspondente inquérito realizado por aquela organização.
Bem se percebem as razões pelas quais o governo da coligação PSD – CDS descontinuou a participação do País em importantes inquéritos e análises sobre o estado da educação em Portugal e, do mesmo modo, interrompeu a transmissão para as organizações internacionais de informação relevante.
Com a promessa de devolução de uma educação verdadeiramente democrática por parte do actual governo, a qual não se consegue sem o cultivo sistemático da transparência da acção pública, só podemos esperar que aspectos como os que acima exemplificámos venham a conhecer a devida iluminação e o correspondente tratamento.

O Relatório "Education at a Glance - 2015" - I)

A apresentação
A OCDE publicou em 24 de Novembro último a edição anual do relatório Education at a Glance, disponível aqui. Como esta publicação constitui uma referência para a investigação e para a análise dos processos educativos, permitindo comparações internacionais, aqui fazemos esta breve apresentação.
O relatório de 2015 segue uma estrutura idêntica à das edições anteriores que, na versão inglesa[1], se desdobra nos seguintes capítulos:
A- The output of educational institutions and the impact of learning;
B- Financial and Human Resources invested in education;
C- Access to education, participation and progression;
D- The learning environment and organization of schools.
O Capítulo A dá-nos indicação sobre o nível educacional de adultos e jovens, em 2013, nos ensinos regular e vocacional, por áreas de estudo e por sexo e, para alguns indicadores, também a evolução verificada entre 2005 e 2013. Também nos informa este Capítulo sobre os ganhos salariais relativos por nível de ensino, a “rentabilidade” privada e social do ensino superior e, ainda, a probabilidade de emprego e desemprego, por nível de escolaridade e por escalões etários, quase sempre segundo uma perspectiva de género. Aqui podemos confirmar, por exemplo, a evolução significativa da população licenciada em Portugal entre 2005 e 2013, à qual correspondem, no entanto, taxas de desemprego elevadas sobretudo para as mulheres e para o escalão etário dos 25 aos 34 anos: apenas Itália, Espanha e Grécia revelam pior desempenho (Quadro A5.1.a).
No Capítulo B descrevem-se as condições e modalidades de financiamento da educação e utilização dos recursos, por níveis e tipos de ensino, decompondo em esforço público e privado e em proporção do rendimento nacional e do orçamento de Estado, sendo dado especial destaque ao ensino superior. Esta edição traz a novidade de analisar os efeitos da crise económica sobre a evolução dos gastos do Estado com educação, em percentagem do PIB: ficamos a saber que, em conjunto com a Itália, a Espanha e a Hungria mas com intensidade bem superior à daquelas economias, Portugal diminuiu significativamente (cerca de 10%) os gastos públicos com as instituições de ensino entre 2010 e 2012 (Figura B.2.4).
O terceiro Capítulo, C, analisa as condições de acesso à educação, por escalões etários, níveis de ensino, modalidades regular e vocacional, entre outros aspectos. A presente edição volta a dar grande ênfase ao ensino pré-primário, relacionando a sua frequência com a aquisição de competências básicas. Destaca também o cada vez mais importante domínio da mobilidade internacional de estudantes e professores, relacionando-a com o montante relativo das propinas e apoios sociais. Observa em detalhe a transição entre a escola e o mercado de trabalho e concluí com uma análise detalhada da educação da população adulta, não havendo neste último domínio senão um breve indicador relativo à situação em Portugal.
No 4º e último Capítulo, D, tratam-se questões de organização e administração dos sistemas de ensino, aí se focando aspectos como os relativos aos tempos lectivos por disciplina, dimensão média das turmas, formação e estatuto remuneratório dos professores, modelos de avaliação interna e externa, entre outros aspectos.
Mas não nos podemos ficar por aqui…
[1] Em Português só está ainda disponível um sumário executivo.

25 de novembro de 2015

Conhece o livro Pensar a Educação?

Neste livro reúnem-se os textos da conferência Pensar a Educação. Portugal 2015, realizada em Lisboa, na Fundação Calouste Gulbenkian, em Maio último.

O livro contem análises da situação, identificação de problemas e formulação de pistas de orientação para melhorias inadiáveis que devem ser introduzidas no sistema educativo nacional a-fim-de dotarmos o País de uma educação de qualidade que vá ao encontro da realização pessoal e das exigências de um desígnio colectivo de desenvolvimento humano sustentável. 

Como se escreve no prefácio, os seus autores desejam, com a divulgação desta obra, contribuir para mobilizar a sociedade portuguesa em torno da problemática do futuro da educação no nosso País, pois, como também aí se afirma, tem-se a convicção de que a educação é uma questão que a todos diz respeito, ao nosso presente e a nosso futuro.

O livro foi publicado pela educa e pode ser encomendado através de email  educa@ie.ul.pt

Os autores/autoras agradecem críticas e sugestões.

12 de novembro de 2015

Lançamento do livro Pensar a Educação

Hoje, pelas 18 horas, realiza-se no Instituto de Educação da Universidade de Lisboa, o lançamento do livro Pensar a Educação, recentemente editado pela Educa.
 
Este livro é a condensação dos resultados de um projecto de reflexão que nasceu no âmbito do Grupo Economia e Sociedade e envolveu cerca de meia centena de professores e investigadores que, desde o início, nele benevolamente se empenharam e, em fase posterior, beneficiou dos frutos de sete seminários sobre distintas áreas temáticas tendo culminado com a realização de uma conferência, em Maio último.
 
O lançamento do livro dá visibilidade à ideia de que é urgente mobilizar a academia e demais actores sociais para a tarefa de repensar a educação e o sistema educativo no nosso País, corrigindo erros e abrindo caminhos para enfrentar os novos desafios culturais, económicos, tecnológicos e sociais com que nos deparamos.
 
Nestes dias de aceso debate político, importa que a educação encontre a centralidade que merece na elaboração e no escrutínio dos programas do novo governo.
 
Não é supérfluo lembrar que o nível e a qualidade da educação de uma população, além de constituir um factor de realização pessoal, reflecte-se na maior ou menor propensão da comunidade à inovação e à incorporação do conhecimento na economia e no quotidiano da vida pessoal, familiar e social, na sua capacidade de discernimento sobre as alternativas que se apresentam e na possibilidade de escolhas mais racionais, emocionais e eficientes. É, pois, fundamental que cada sociedade ofereça a todos os seus cidadãos e cidadãs e, em particular, às gerações mais jovens, ferramentas que habilitem a enfrentar com sucesso os desafios de um novo mundo em emergência.
 
A sessão de apresentação do livro conta com uma intervenção do Professor António Nóvoa.

2 de novembro de 2015

Interculturalidade e heterogeneidade nas escolas

São actualmente muitas as escolas onde, na mesma turma, podem ser encontrados alunos pertencentes a diferentes nacionalidades, etnias e origens sociais. As oportunidades e dificuldades colocadas por esta situação têm sido objecto de alguma reflexão.
Há quem defenda que a luta contra o abandono escolar de alunos pertencentes, por exemplo a minorias mais desfavorecidas, exige a constituição de turmas homogéneas, para que haja uma atenção reforçada para com estes alunos, para além da necessidade de não virem a prejudicar os outros.
Não existindo uma avaliação segura dos resultados obtidos, sendo que a experiência porventura mais conhecida foi a ensaiada com alunos de etnia cigana, o tema parece ter sido abandonado, afigurando-se porém que não está esgotado, merecendo que se volte a ele.
Para tanto, importa não esquecer os princípios sobre os quais assenta a escola pública, ou seja, “um local onde todos os estratos sociais estão presentes e onde as crianças aprendem a conhecer as diferenças e a constituir uma sociedade intercultural”.
Face às exigências colocadas por um mundo globalizado, onde os recentes fluxos migratórios para a Europa atingem quantitativos cada vez maiores, há que enfrentar desafios, sob pena de se fazer renascer sentimentos de intolerância e discriminação, propícios à eclosão de conflitos sociais. Não será então urgente reforçar o debate sobre o papel da escola na construção da interculturalidade e da coesão social?