23 de setembro de 2017

Educar para o Humanismo Solidário

Com este título foi publicado pela Congregação para a Educação Católica um documento que visa propor directrizes no sentido de uma educação para um humanismo solidário. Destinado especialmente às escolas e universidades católicas de todo o mundo, o texto merece a atenção de quem se preocupa com a finalidade da educação em geral, designadamente, como preparar as novas gerações para enfrentar os desafios do mundo globalizado que seja inclusivo, de diálogo, de solidariedade e de paz. 
 
Eis breves excertos.

O homem contemporâneo experimentou que o que acontece numa parte do mundo pode ter consequências noutras, e que ninguém pode, a priori, sentir-se seguro num mundo onde há sofrimento e miséria.
A educação será ineficaz e os seus esforços estéreis, se não se preocupar também por difundir um novo modelo relativo ao ser humano, à vida, à sociedade e à relação com a natureza. 
 
"Humanizar a educação” significa colocar a pessoa no centro da educação, num quadro de relações que compõem uma comunidade viva, interdependente, vinculada a um destino comum. É desta maneira que é caracterizado o humanismo solidário.

Uma educação humanizada não se limita a fornecer um serviço de formação, mas cuida dos seus resultados no quadro geral das capacidades pessoais, morais e sociais dos participantes no processo educativo; não pede simplesmente ao professor para ensinar e ao aluno para aprender, mas exorta cada um a viver, estudar e agir de acordo com as premissas do humanismo solidário; não prevê espaços de divisão e contraposição mas, pelo contrário, oferece lugares de encontro e debate para realizar projectos educativos válidos; trata-se de uma educação - ao mesmo tempo - sólida e aberta, que derruba os muros da exclusividade, promovendo a riqueza e a diversidade dos talentos individuais e expandindo o perímetro da própria sala de aula a cada âmbito da experiência social em que a educação pode gerar solidariedade, partilha, comunhão.

O texto na íntegra pode ler-se aqui.

12 de setembro de 2017

Ensinar a pensar bem para viver melhor

No começo de um novo ano escolar, não é supérfluo reflectir sobre a finalidade última da acção educativa e o papel primordial que cabe a educadores, professores, gestores e demais técnicos ao serviço da educação.

Não questiono a necessidade de bem cuidar das tarefas específicas nos vários e distintos domínios particulares do conhecimento, da organização e da gestão dos recursos, mas creio que vale a pena sublinhar quão importante é a tomada de consciência da finalidade última do projecto educativo de cada comunidade educativa e, consequentemente, a necessidade de o definir, pôr em prática e avaliar.

Numa leitura recente, deparei com um texto de Frédéric Lenoir (Le bonheur – un voyage philosophique, 2013) em que este autor dá destaque ao conceito de educação segundo Montaigne, considerando-o particularmente relevante para o tempo actual em que sobressai a preocupação excessiva com o acumular de informação e a respectiva métrica, em desfavor da educação para a vida boa.

Transcrevo as suas palavras:

O verdadeiro projecto educativo deveria consistir em ensinar a criança a desenvolver o seu juízo próprio. Porque a coisa mais essencial para levar uma vida boa, é saber discernir e julgar bem. A formação do juízo é indissociável do conhecimento de si: um educador deve ensinar a criança a fazer um juízo próprio sobre as coisas a partir de si própria, da sua sensibilidade e da sua própria experiência.

Isso não significa que se deva renunciar a transmitir-lhe valores essenciais à vida em comum, como a boa-fé, a honestidade, a fidelidade, o respeito do outro, a tolerância. Todavia, convém ajudar a criança a medir a importância destas virtudes a partir da sua percepção, da sua maneira de ver. 

Ensinando-a a conhecer-se e a observar o mundo com um espírito ao mesmo tempo aberto e crítico, ajudamo-la a formar um juízo pessoal que lhe permitirá fazer as escolhas de vida que convêm à sua natureza. 
 
Em suma: a educação deve ensinar a pensar bem para viver melhor.