20 de maio de 2017

Educar para a conscientização

Por mero acaso deparei com este texto de Jacques Salomé. Publicado em 1994, mantém, a meu ver, plena actualidade, pelo que vale a pena recordá-lo, neste quase final do ano lectivo, que é também o tempo propício para o começo da preparação de um novo ano escolar.
 
Por maior relevância que tenha a busca das melhores soluções de funcionamento das escolas e dos ajustamentos, que será desejável fazer, na afectação dos recursos materiais e humanos, não deve ser subestimada a pergunta de fundo: Educar para quê?  

Vivemos tempos de anunciadas mudanças a vários níveis e bom seria que as diferentes comunidades educativas se debruçassem seriamente sobre os desafios desse tempo futuro e implicações que daí resultam para os projectos educativos.

O texto de Jacques Salomé, que a seguir transcrevo,  traz à reflexão opções essenciais.

Um dia haverá nas nossas escolas uma educação para a conscientização.
 
Uma educação em que cada criança será convidada a compreender e a ampliar o despertar dos seus possíveis e, além disso, a reconhecer a parcela de divino que nela existe.
 
Uma educação que lhe permitirá e autorizará a sentir aquilo que sente, a experimentar o que experimenta num momento dado, a poder identificar o seu real sentimento do instante.
 
Ser-lhe-á, assim, oferecida a possibilidade de uma verdadeira aprendizagem:

• Para se exercitar a percepcionar as diferentes sensações: de gratificação e de frustração, de compreensão e de rejeição.
• Para afinar as sus capacidades de discernimento.
• Para aprender a distinguir o escutar do entender, o olhar do ver, o exprimir-se do comunicar.
 
Um dia haverá nas escolas uma educação para defender o respeito de si e a importância de não se deixar definir… pelos outros.

E, assim, fazer compreender que uma relação tem sempre duas extremidades.
 
Uma educação que nos fará entender que é possível a cada um tornar-se responsável da extremidade que é a sua e de ser atento, vigilante e respeitoso da outra extremidade (a daquele ou daquela que está diante de si), na descoberta da diferença e da alteridade.
 
Um dia haverá nas escolas um ensino para aprender a proteger e a alimentar a nossa relação com o Universo.
 
Para nos fazer descobrir que somos seres planetários, que já não é possível gerir o planeta TERRA a partir de interesses locais, nacionais ou circunstanciais.
 
Um dia haverá uma ecologia relacional que florescerá entre os seres e nos dará meios concretos de aceder, para além da esperança, à necessidade de paz que habita cada um.
 
Haverá uma pulsão mais vital do que uma necessidade, mais ambiciosa que um desejo, mais poderosa do que um mero despertar. 

Haverá um movimento mais profundo que um impulso, mais largo do que um voo, mais generoso que uma promessa.
 
Haverá um ideal mais vivo do que um sonho.
 
Haverá um projecto de carta de vida para uma comunicação viva e relações saudáveis entre os homens e as mulheres.
 
(Jacques Salomé – Il y aura un jour... in L’attention. Prendre soin de l’être. Outono 1994)

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