19 de março de 2016

Um caso singular de sucesso escolar

Foi hoje publicado no jornal Público uma notícia sobre uma escola pública que obteve a melhor média das escolas públicas no exame nacional do 9º ano de português em 2015. O facto, só por si, já mereceria destaque neste blogue, que está empenhado em pensar a educação em Portugal.
 
É sempre com grande satisfação que encontro motivo para partilhar boas notícias e deixar registo de incentivos que ajudem a superar o desânimo que grassa, não sem razão, em muitos ambientes escolares.
 
Acresce, porém, que a referida escola apresenta características específicas que importa destacar.

É uma escola com 300 alunos que se situa num lugar remoto da Ilha da Madeira, habitado por uma população pobre que vive de uma agricultura de subsistência, sem comunicações fáceis com o meio exterior e onde não é generalizado o acesso à internet.
 
Neste contexto, como se explica o sucesso alcançado que, aliás, não deve medir-se apenas pelos resultados obtidos em exame nacional, mas também pela satisfação, motivação e empenhamento dos alunos e dos docentes que parece verificar-se nesta escola do Curral das Freiras?
 
Gostaria de destacar, em primeiro lugar, a escala humana da escola, o que permite relacionamentos de proximidade e através deles a resolução fácil de conflitos de interesses (os horários das aulas casam com os horários das camionetes), a prevenção de problemas de disciplina, a maior exigência na responsabilização pessoal de cada um (alunos, docentes e outros funcionários), a adaptação do ensino às características e capacidades de cada aluno.
 
Fico a pensar que é urgente rever a política dos agrupamentos e mega agrupamentos onde o anonimato é regra!.
 
Pelo que me apercebi, através da informação veiculada pelo articulista, este sucesso vem associado a um modelo de funcionamento que propicia um projecto educativo onde os alunos se sentem estimulados a levar por diante os seus sonhos de progresso social pela via do acesso ao conhecimento, a que não é indiferente a personalidade e o empenhamento pessoal do director e da equipe docente em os tornar realidade.
 
Ocorre-me a ideia de que é fundamental repensar o modelo de gestão das nossas escolas, de modo a garantir projectos educativos que mobilizem alunos e docentes, promovam a exigência de toda a comunidade educativa e a sua co-responsabilização pelo sucesso comum.
 
Outras ilacções são possíveis e devem ser motivo de reflexão e debate.
 
Termino com uns respigos da entrevista ao director seleccionados pelo jornalista: Foi feita uma pequena revolução. O grau de exigência foi elevado (…). Foram ajustes simples. A escola não tem campainha. A que existia avariou, e não havia dinheiro para uma nova. Agora que há, continua sem haver toques. “Há uma maior responsabilização, e acabaram-se as tolerâncias”, explica. As turmas são pequenas, por falta de alunos e todas têm apoio inserido no horário lectivo. Não há trabalhos para casa – “os miúdos têm de ter vida para além da escola” -, e os métodos de ensino são adaptados a cada um deles. “Nem todos podem ser doutores, mas todos podem e devem sair daqui preparados para enfrentar o mercado de trabalho”, argumenta, enumerando as dificuldades que os alunos enfrentam para vir à escola. “São verdadeiros heróis.”
 
O artigo na íntegra pode ler-se aqui

10 de março de 2016

Em defesa da transparência na política da educação

Um dos requisitos fundamentais para o exercício do direito e do dever de uma cidadania responsável é a transparência da informação acerca das políticas públicas.
Será, pois desejável – e expectável, dado o quadro de potencialidades oferecidas nesta era de comunicação digital - que o cidadão comum possa ter acesso fácil aos discursos dos governantes e às suas demais intervenções políticas bem como aos conteúdos das suas deliberações em matéria de política pública.
Era isso que eu esperaria encontrar ao procurar no site do Ministério da Educação informação relevante correspondente aos 100 primeiros dias deste Governo, bebendo na fonte a devida informação, sem ter de ficar refém da mera (e sempre escassa!) notícia jornalística.
Foi, porém, com enorme surpresa que constatei o vazio do site do Ministério da Educação. No dia em que o consultei (7 Março) estava disponível um único discurso do Ministro sobre uma matéria específica (migrações) e quanto a medidas legislativas adoptadas constava um breve enunciado das mais recentes mas não era possível aceder aos respectivos textos. Tão pouco existia (como se imporia) um arquivo onde procurar informação anterior.
A bem da transparência na política da educação, temos de concordar que é urgente rever esta situação.
A educação é um dos sectores que, além de interessar directamente a mais de um milhão de cidadãos (alunos, encarregados de educação, professores, educadores e demais profissionais da educação) merece a atenção de toda a sociedade pela sua incidência na qualidade da vida presente e na formação das gerações futuras.
De entre as conclusões do Projecto Pensar a Educação, quisemos ressaltar a ideia da necessidade de desenvolver uma sociedade educativa, isto é, com cidadania atenta aos desafios da educação e vigilante relativamente à política da educação e sua implementação.
Em nome do direito á informação e à transparência da acção governativa, deixo um apelo à actual equipe ministerial da educação: que se tomem as providências necessárias para que o cidadão comum tenha acesso a toda a informação relevante sobre a condução da política de educação: discursos e demais intervenções políticas do Ministro ( e Secretários de Estado) diplomas legislativos e decisões administrativas de carácter geral e respectivos textos de suporte, relatórios de avaliação e estudos relevantes em curso, etc.
Dos leitores e leitoras deste post espero comentários e também a divulgação deste apelo através dos respectivos contactos para que o mesmo chegue a quem de direito.